Ele estava esperando há um bom tempo na esquina. Vez ou outra, desviava a atenção para o trânsito, para as árvores ou para algum cachorro moribundo que passava, enquanto tragava seu cigarro de filtro amarelo.
O dia estava quente e decidiu sair com uma camisa branca e de bermudas. Para não queimar a careca, seu velho boné do Chargers. Nunca gostou de Futebol Americano, mas aquele boné era de estimação. A aba azul protegia seus óculos de lentes redondas e transparentes, mas o fazia suar no nariz, no bigode e no ralo cabelo branco que contornava sua cabeça, como a coroa de folhas de Júlio César. E falando em suor, sua camisa já estava um pouco molhada debaixo dos braços.
Ele estava esperando há um bom tempo, encostado no poste que erguia duas placas azuis: Rua Barata Ribeiro e Rua Barão de Ipanema.
A princípio, não parecia um bom lugar para se espionar alguém. Mas o barulho, o movimento e a multidão o apagavam, como um professor apressado apaga o quadro com a matéria antes da prova, além de possibilitar uma boa visão do outro lado da rua.
Sob a aba do boné, escondido sob o trovão dourado, seus olhos azuis observavam ligeiramente os transeuntes, mas sempre retornando sua atenção para aquele ponto específico da rua agitada.
Em um desses passeios dos olhos que avistou quem procurava. Nem os ônibus, nem os pedestres, nem os vira-latas importavam mais. Apenas o que via era uma senhora de vestido na coxa, salto plataforma, e batom. Tudo vermelho, contrastando com a pele e os cabelos dourados. Brilhou na multidão como um tomate e para ele, era o prato principal do dia. Apagou o resto do cigarro no poste e jogou a guimba no chão. Ajeitando os óculos com o dedo, iniciou a movimentação.
A chamativa senhora saiu de um prédio de esquina e desceu a rua, enquanto colocava seus óculos escuros e ajeitava a alça da bolsa Dolce & Gabbana no ombro. Sequer percebeu que era seguida por um sujeito de boné e camisas brancas com pizzas de suor.
Ele decidiu não atravessar, e fazer a perseguição com uma certa distância e certa cautela. Do jeito que a mulher se destacava, ele poderia segui-la de longe sem perdê-la de vista.
Alguns metros à frente, a senhora passou pela faixa e entrou na esquina com a Bolívar. Era o momento para agir.
Na metade da rua, apertou o passo e a alcançou, segurando-a pelo braço.
A senhora assustou-se e exclamou:
A senhora assustou-se e exclamou:
- Minha nossa, sr. Risso! Quer me matar do coração? E trate de me soltar, está amassando a minha roupa.
- Estou esperando a senhora desde cedo. Está com o meu dinheiro? - perguntou a ela, com sua voz rouca de cigarro e respiração ofegante pela pressa de alcançá-la.
- Ora, estou. - disse a mulher, meio sem jeito - Mas tinha que me abordar desse jeito? Você disse que tinha resolvido o caso. Onde ela estava?
- Onde a senhora a deixou. Na pet shop. - respondeu Risso - Dona Eliane, a senhora me disse que havia ligado para lá! Sorte que resolvi começar por onde sua cadela foi vista pela última vez...
Dona Eliane abriu um enorme sorriso enquanto tirava os óculos:
- Ah, que ótimo, sr. Risso! Bem, eu confesso que não me lembro ao certo de ter ligado ou não. - e soltou uma risada aguda - Mas sou eternamente grata por ter buscado minha Mariana! Já estava em depressão, pensando que algo pudesse ter acontecido à ela.
Ela abriu a sua bolsa D&G - vista de perto, era visivelmente falsa - e retirou um maço de notas de 20 reais, enroladas num elástico.
Risso a encarou com um olhar cansado, pegou o maço e o guardou na carteira, depois de contar rapidamente o número correto de notas.
- Deixei a Mariana com o seu porteiro. Obrigado pela preferência, dona Eliane. - disse ele, enquanto acenava levemente, segurando a aba do boné, já se afastando daquele borrão vermelho e amarelo com que conversava.
- Obrigado ao senhor! Muito obrigado mesmo, sr. Risso!
Sorriu, como que por educação, levantando um canto do bigode:
- Me chame de Francis, dona.
E foi andando, enquanto acendia um cigarro e pensava em chegar logo em casa.